O voo do Bacurau
cinema, necropolítica e [contra]violência
DOI:
https://doi.org/10.35355/revistafenix.v17i17.951Palavras-chave:
Bacurau, cinema, necropolítica, resistências, HistóriaResumo
O presente artigo é uma análise histórica e crítica do filme brasileiro Bacurau (2019), escrito e dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, que articula uma visão cinematográfica da história do país, problematizando tanto os dilemas enfrentados atualmente quanto o passado de resistência de grupos historicamente marcados pela diferença a partir de costumes e tradições, no enfrentamento à necropolítica contemporânea. A crítica cinematográfica compreendeu Bacurau como um espaço de debate para temas sociais brasileiros, tais como as políticas locais coronelistas (representada pelo prefeito Toni Jr.) e práticas economicamente centradas em polos geográficos do poder (representada pelos personagens do sudeste) que, seguindo a lógica do capitalismo financeiro globalizado, produzem, a partir da precarização da vida das pessoas mais vulneráveis, uma espécie de safari humano dos sujeitos, promovendo uma banalização da vida do outro. Esse é compreendido, assim como no filme, como vítimas de uma política neocolonialista de morte em larga escala, mas que pode ser enfrentada a partir da tradição cultural dos sujeitos insurgentes do nordeste brasileiro, através de uma política das diferenças construídas a partir das margens como reposta às opressões, que ao menos, em suas representações fílmicas, inspiram a vida.
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